LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para violino em re maior. op. Bl 0 Concerto para violino de Beethoven ocupa hoje. sem düvida, o topo do repertörio vio- lim'stico. Mas o reconhecimento näo foi imediato: apös uma premiere relativamente bem sucedida. a pepa ficou no esquecimento por longo Tempo, ate que Felix Mendelssohn a regeu em Londres. em 1844 tendo como solista a entäo crianga prodigio Joseph Joachim. So entäo eia conquistou as salas de müsica e gerou descendentes ä altura: näo por acaso, o primeiro deles. o Concerto para violino do proprio Mendelssohn, tambem e de 1844. Diferentemente do concerto para piano, que contou com a extraordinäria produpäo de Mozart, seu equivalente para violino näo evoluiu muito durante a primeira fase da escola vienense. Genera privilegiado da müsica orquestral barroca, languescia numa elegäncia superficial e decorativa. As contribuiqöes de Haydn e Mozart, de resto Juvenis. näo acrescentaram muito nesse campo. As produqöes mais avanpadas eram de escola francesa ou italiana: Giovanni Battista Viotti. ativo em Paris e mais tarde em Londres. era o compositor mais consistente no genero, o ünico que poderia servir de modelo para Beethoven (como. ao que parece. serviu). As demais eram mero virtuosismo. quando näo repetipäo cansada das förmulas galantes. Franz Clement, o violinista que estreou o concerto em dezembro de 1806. era um desses virtuoses, mas näo desprovido de sensibilidade. segundo os contemporäneos. Um de seus pontos fortes era a afinapäo perfeita no registro superagudo. que de fato e muito explo- rado na partitura de Beethoven. Em seus concertos. Viotti tambem concentrava a parte do solista na corda mais aguda (chanterelle). num expediente simples para diferenciar o solista dos demais violinos. Mas essa solugäo — que, num compositor consciente como Viotti. era ditada por mera necessidade prätica — torna-se. no Concertode Beethoven, o cerne formal e poetico da composipäo inteira. No primeiro movimento. Beethoven logo estabelece dois polos: de um lado, o material da orquestra. centrado nos cinco golpes dos timpanos. logo retomados pelas cordas e obses- sivamente repetidos durante todo o primeiro movimento — pela sonoridade surda. e por ser mero ritmo. eles constituem o chäo. o centro de gravidade. De outro. hä o movimento nervoso. quase esvoaqante. do solista. ja evidenciado. e sua longa cadencia de entrada, constantemente para o alto, como se quisesse perder todo peso. As melodias cativantes (todo o concerto e cantävel. fato raro em Beethoven) manifestam um lirismo sempre prestes a se desmaterializar. e quase o conseguem, na longa reverie do