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de cansago. Composto em 1930, o bale Bacchus et Ariane foi estreado no ano seguinte, em Paris, com coreografia de Serge Lifar e cenärios de Giorgio de Chirico. O libreto se baseia no mito de Ariane, abandonada por Teseu na ilha de Naxos, onde vai se casar com Baco (Dionisio), o deus da fertilidade. Os oito movimentos da Suite correspondem ä seqüencia da narrativa: 1) sono e despertar de Adriane, abandonada; 2 e 3) sua surpresa e desespero, tentativa de moite, aparigäo de Baco; 4) danga de Baco; 5) beijo de Baco, encantamento dionisiaco e desfile das bacantes, brinde do vinho; 6) danga de Ariadne; 7) danga de Ariadne e Baco; 8) bacanal e coroamento de Ariadne. CLAUDE DEBUSSY (1862-1918) La Mer (Tres esbogos sinfönicos) Desde 1983, com a publicagäo das anälises de Roy Howat (em seu livro Debussy in Proportion), tornou-se usual estudar as composigöes de Debussy em termos de proporgöes geometricas, baseadas na "segäo äurea". Empregada tambem por outros compositores, como Ravel, Faure ou Bartok, a segäo äurea e um artificio mais velho que a arte; e ordena, tambem, a gravura da "Onda" de Hokusai, reproduzida na capa da primeira edigäo, de La Mer, a pedido do compositor. A tonalidade £ um sistema; a razäo äurea näo £ nem mais, nem menos sistemätica: sugere, apenas, uma outra maneira de se organizar o espago musical, melhor adaptada para acomodar as formas cambiantes da müsica de Debussy. La Mer e o cavalo de batalha de Howat e suas anälises iluminam como nenhuma outra a elaboragäo altamente complexa, mas para o ouvinte sempre täo clara, täo intuitivamente bem proporcionada da anti-sinfonia de Debussy. Compostos entre 1902 e 1905, esses tres esbogos sinfönicos inventam, de fato, uma nova forma de narrativa, onde cada evento e "sempre necessärio e sempre imprevisivel", como diz Pierre Boulez. A forma ciclica se confunde com um outro tipo de desenvolvimento — inspirado, ao menos em paite, pela nova arte do cinema — e que näo se enquadra em nenhum genero convencional; e uma "tecnica de invengäo instantänea, onde os elementos säo chamados a reagir, a interferir uns nos outros", nas palavras de Jean Barraque, outro herdeiro musical de Monsieur Croche. "Estou ä procura de uma outra coisa", escreveu Debussy a seu editor, "recilidades" — ou o que os imbecis chamam de "impressionismo". "Avesso a todas as formas de diletantismo, mas igualmente avesso aos modelos do passado, Debussy vai criar, afinal, uma nova müsica, jä liberada de seu precursor, Richard Wagner. Resultado mäximo de suas concepgöes, verdadeira pedra-de-toque do modernismo, La Mer estä hoje na companhia das grandes obras sobre o mar: Moby Dick, aquarelas de Turner, as novelas de Conrad, ou o Cimetiere Marin de Valery. Mas, ao conträrio dessas, o "mar" aqui näo £ um pesadelo, ou simbolo da fatalidade. O mar e a müsica säo uma coisa sö; sua coincidencia leva, no final, a um cancelamento — a solugäo das segöes äureas — mas näo carrega marcas de angüstia, e sim de felicidade. CARL MARIA VON WEBER (1786-1826) Der Freischütz — Abertura "Der Freischütz: origem da öpera romäntica alemä" — esta citagäo poderia constar no Dicionario de Ideias Feitas, de Flaubert. A verdade e que, a despeito da influencia inegävel de Weber sobre o novo estilo nacional, cada palavra da definigäo precisaria ser reconsiderada. Por um lado, se Weber e uma origem, entäo esta se confunde com a öpera comique francesa, que por sua vez se se perde em ancestrais. E as tinturas germänicas em Der Freischütz säo apenas uma Variante particular de um interesse de Weber pelas mais variadas culturas, da Espanha ä Polönia, do Egito ä China e ä Rüssia. Por outro, o "romantismo", em Der Freischütz, e paradoxalmente a vitöria do "realismo" — da caracterizagäo sobre a beleza, do som e do timbre sobre a fungäo tonal das notas, da fragmentagäo sobre a continuidade, do insolito sobre o ideal e do populär sobre o clässico — a tal ponto que a öpera de Weber, para Hegel ou Grillparzer, era mais propriamente uma forma de anti- romantismo. Der Freischütz foi composta em 1821, quando Weber jä era diretor da Öpera de Dresden. Sua Abertura reüne grande nümero de temas, mas vai alem do pot-pourri-, estä mais pröxima do que se chamaria, hoje, de obra "de programa", ä maneira de um poema sinfönico. Weber e um dos grandes mestres do fantästico na müsica e a Abertura estä cheia de exemplos de orquestragäo "sinistra", contrabalangados pelo grande Cäntico final de Ägata, o amor em do maior. E uma müsica cheia de oscilagöes, mas permeada por "uma especie de melancolia sonhadora", como dizia Debussy, para quem Weber "jamais se entregou ä sentimentalidade tosca" de quase todos os seus contemporäneos. LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para Piano e Orquestra n- 4, em sol maior, op. 58 Pröximo ao imcio do primeiro movimento do Concerto em sol maior, em pleno climax orquestral, hä uma passagem que, embora superficialmente prosaica, poderia servir de emblema para a imaginagäo de Beethoven. O que se escuta £ simples: um acorde de dominante, sustentado por um compasso, e que se resolve na tönica. Mas a "dominante", nesse caso, e justamente a