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novo o solista quem mostra o segundo elemento pedido pelo esquema formal — uma ideia dis- cursiva e mais contida, em Do maior. Ambos os motivos säo amplamente trabalhados nas vä- rias seqöes da forma-sonata. Em sua Coda, uma engenhosa transigäo orquestral nos Ieva direta- mente ao movimento seguinte. O Lento (Langsam) que vem entäo, em Fä maior, e “täo belo como tudo que Schumann compös de melhor”, como lembrou acertadamente Joan Chissell. Em forma-canqäo (A-B-A), esse movi mento curto e dominado pelo tema fervoroso e meditativo entregue ao cello solo. Este explora as cordas duplas na seqäo central, sendo af acompa- nhado pelos pizzicati das cordas da orquestra. No final, a atmosfera intimista e interrompida pelas madeiras e pelas trompas, que trazem ä baila, com muito änimo, o tema principal do primei- ro movimento. E e nesse clima extrovertido que somos levados diretamente ao movimento final. No Finale, em compasso binärio e na tonalidade principal da obra, Lä menor, o Sehr lebhaft (bas- tante animado) e posto em marcha pelo tema apresentado com garbo e de maneira um tanto caprichosa pelo solista. Uma celula ritmica re- tirada dessa ideia darä änimo a toda a seqäo fi nal. O solista tambem se encarrega do segundo tema, de caräter contrastante, algo comedido, mas particularmente bem-humorado. Eies bali- zam as partes da forma-sonata ate que, no fim da Reexposiqäo, Schumann consegue surpre- ender a plateia com uma cadencia acompanha- da, algo inedito em seu tempo. Eia desemboca na Coda curta e muito brilhante que encerra o concerto. Johannes Brahms (1833-1897) Sinfonia n° 1, em Dö menor. opus 68 Deixando a fria Hamburgo onde nascera, no nor- te da Alemanha, Brahms adotou a mais meridio- nal Viena, a Capital da Austria, como sua segunda pätria. Ali, eie era muito considerado, tido como o mais fiel herdeiro de Beethoven. Essa condi- qäo, ä parte ser prestigiosa, trazia um problema serio para o artista: eia o inibia muito quando eie se entregava ä abordagem de formas ja ex- ploradas pelo venerado Mestre de Bonn. Foi bem por causa disso que Brahms tentou compor sua primeira sinfonia durante quase 20 anos de är- duo trabalho. Mas, por fim, conseguiu escreve-la entre 1874 e 1876, vendo-a triunfar em Karlsruhe e Viena. O antiwagneriano Eduard Hanslick, cri- tico musical da cidade, ficou täo encantado com a Sinfonia em Dö menor que chegou a chamä-la de “A Decima de Beethoven” — visäo equivocada, diga-se de passagem. Certamente, a Primeira Sinfonia de Brahms obe- decia, em linhas gerais, aos cänones estabeleci- dos pelas obras congeneres de Beethoven. Mas o tratamento dado äs formas revisitadas, ao colorido orquestral e ate mesmo o proprio tom expressivo do discurso pertenciam a outro uni- verso musical, bem diferente. A beleza dos temas, a riqueza das harmonias, a plasticidade da or- questra^äo e a sölida edificagäo da arquitetura fa- zem com que, ainda hoje, essa sinfonia continue sendo muito admirada pelo püblico de concerto. Brahms da inicio a sua Primeira Sinfonia com uma introdugäo solene e muito impressionan- te, na quäl os timbales tem papel de destaque. Segue-se o esperado Allegro, em forma-sonata, sobre tres temas bem salientes. A vastidäo e a solidez desse movimento entremeiam sentimen- tos de angustia e grandeza, de introversäo e de exaltaijäo. Eie chega ao fim em tonalidade maior. O Andante sostenuto que vem em seguida e envol- vente e compassado. Nele, o compositor nos ofere- ce uma de suas mais radiosas inspiraqöes melödi- cas, que os violinos cantam, antes de entregä-la ao oboe, e este, ao clarinete. A vasta respiragäo des se longo tema repousa sobre uma orquestraqäo transparente, tecida com supremo refinamento. Em terceira colocaqäo na obra, onde os mais tradicionalistas haveriam de esperar um rüsti- co e mäsculo Scherzo, como fazia o Beethoven da maturidade, Brahms colocou um delicioso, meigo e feminino Intermezzo, instäncia na quäl sua imaginaqäo näo se cansou de oferecer ideias sutis, brandas e elegantes a seus ouvintes mais atentos e sensiveis. O Finale, o mais longo movimento da Sinfonia em Dö menor, e tambem o mais complexo. Nele, värios materiais temäticos organizam uma es- tupenda sucessäo de episödios contrastantes, que, na medida em que caminha a müsica, se mostram solidärios e necessärios ä elevaqäo de uma portentosa arquitetura sonora. A uma lenta introduqäo em acordes sucede uma pas sagem em pizzicati das cordas, logo seguida de poderosas ampliaqöes da sonoridade orquestral. Vem, entäo, uma especie de “coral” de atmosfe ra religiosa, que, por fim, carrega-nos ao tema principal do movimento, exibido nos registros mais graves dos violinos — um hino comovente, que näo deixa de lembrar o chamado “Tema da